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Entrevista
Consumo de bebidas alcoólicas deve ser “moderado e esporádico” para evitar complicações hepáticas

Consumo de bebidas alcoólicas deve ser “moderado e esporádico” para evitar complicações hepáticas

Por: José Presa

terça-feira, 17 janeiro 2023 09:29

Com o encerramento do ano e findadas as festividades com alguns excessos, janeiro pode simbolizar votos de mudança e realização na vida de muitas pessoas. É na procura desta mudança que a Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF) implementa, pela segunda vez, um desafio de âmbito nacional denominado “Janeiro Sem Álcool” para a consciencialização para a doença hepática alcoólica. O objetivo, segundo explica em entrevista o médico e presidente da APEF, José Presa, não passa por interditar, mas apelar a um consumo de forma moderada e esporádica.

 

Considerando que “o consumo de álcool é uma problemática que nos atinge a todos”, os dados não podem ser “ignorados” e o presidente da APEF destaca que, no panorama europeu, Portugal consome em média 12,1 litros per capita por ano, acarretando um “número significativo de impactos diferentes na saúde da população”, nomeadamente para o fígado, como fígado gordo, hepatite alcoólica e cirrose hepática, além de consequências indiretas, sendo os acidentes de viação um exemplo. É a partir desta premissa que a APEF lança esta iniciativa sob o mote “31 Dias Sem Álcool”, instituída em contexto nacional pela segunda vez em 2023. A origem desta iniciativa provém de Inglaterra e remonta ao ano de 2013.
 
Em termos numéricos, segundo dados do relatório do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), de 2020, o consumo de álcool é mais elevado por parte dos homens, com 19,5 litros de puro álcool per capita por ano, do que as mulheres, que também são menos tolerantes do que o género masculino, consumindo 5,6 litros.
 
De acordo com a mesma fonte, em 2020, foram registados 36.799 internamentos hospitalares, com diagnóstico principal ou secundário atribuíveis ao consumo de álcool, envolvendo 27.238 indivíduos, em Portugal. Os dados referem ainda que, em 2019, morreram 2.507 pessoas por doenças atribuíveis ao álcool, 27 % das quais por doenças atribuíveis a doença alcoólica do fígado.
 
José Presa apresenta ainda um outro dado “muito preocupante” do relatório do SICAD de 2021 da situação de Portugal em matéria de álcool, expondo que cerca de 30 % das crianças com 13 anos tem contacto com bebidas alcoólicas, com essa percentagem a aumentar e a alcançar os 90 % aos 18 anos. Neste sentido, analisando geralmente todos estes dados “verdadeiramente assustadores”, o especialista reflete para a “falta completa de fiscalização das autoridades”.
 
“Não posso mesmo beber?” é a pergunta que José Presa ouve inúmeras vezes no decorrer da iniciativa promovida pela APEF, respondendo que a ingestão deve ser responsável e esporádica. Partilha que no senso comum surge a ideia de só quem está permanentemente alcoolizado contrai cirrose hepática, uma visão “profundamente errada”, explicando que essa correlação e essa situação é minoritária, dado que corresponde a uma população que consome regularmente bebidas alcoólicas ao longo do dia, ditando, ao fim de um marco temporal de mais de duas décadas, por exemplo, no surgimento de doença hepática avançada.
 
Consolida o seu argumento afirmando que, mesmo em menores quantidades diárias consideradas de pouca importância para muitas pessoas, o consumo de álcool não apenas faz mal ao fígado como também a outros órgãos como o cérebro, contribuindo para quadros demenciais, isto é a deterioração da função cerebral, mas também atingindo muitas vezes o coração.
 
A literacia em saúde surge como uma importante arma para desmistificar algumas ideias que podem aparecer. O primeiro é o de se achar que, por exemplo, um vinho, não tem produtos químicos em situações em que a pessoa sabe como foi produzida a bebida ou até por ser de fabrico próprio e que por isso considera que não faz mal; o segundo já referido anteriormente passa por se considerar que somente quem está permanentemente alcoolizado é que contrai cirrose hepática; outro diz respeito ao de a pessoa referir que não ingere bebidas brancas. “O que faz verdadeiramente mal é a ingestão de bebidas com teor de álcool”, relembra, explicando que “apenas o que vai distinguir umas das outras é a quantidade de álcool que cada uma vai disponibilizar no momento em que se bebe”.
 
Por considerar o consumo de álcool “deletério” para a saúde, espera que progressivamente a população possa interiorizar os malefícios subsequentes da ingestão de bebidas alcoólicas, anunciando que o contributo das autoridades de saúde, associações/ sociedades médicas e forças de segurança, por meio deste tipo de ações realizadas, se tornam fundamentais para apelar à mudança de hábitos.
 
Durante o mês de janeiro, a APEF aposta em conteúdos referentes à iniciativa, com o intuito de alertar a população para os danos relacionados com o álcool.

 

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