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Entrevista
Dia Mundial do Rim: o combate à “silenciosa” doença renal crónica

Dia Mundial do Rim: o combate à “silenciosa” doença renal crónica

Por: Redação Vital Health

quinta-feira, 09 março 2023 09:15

Para assinalar o Dia Mundial do Rim, que se celebra hoje, 9 de março, Edgar Almeida, presidente da Sociedade Portuguesa de Nefrologia (SPN), partilha os sinais a que deve estar atento indicativos de doença renal crónica (DRC), bem como as medidas de prevenção e de redução de progressão, tais como “uma alimentação saudável, deixar de fumar, controlo do peso, exercício físico, boa hidratação, evitar medicamentos que fazem mal aos rins, como é o caso dos anti-inflamatórios não esteróides”. 

 

Vital Health (VH) | Quais os sinais que as pessoas devem estar atentas que possam ser indicativas de DRC? 
Edgar Almeida (EA) | Nas fases iniciais, a doença renal é muito silenciosa e apenas pode ser detetada em análises específicas. Há vários grupos de pessoas em que a doença renal é mais comum, como os idosos, em que múltiplas patologias convergem para criar ambiente propício para a doença renal, mas também as pessoas com diabetes, hipertensão arterial, com história familiar de doença renal, etc.
 
VH | Quais as patologias associadas a esta doença? E quais tornam o quadro clínico mais complexo?
EA | Nas fases iniciais, são as doenças associadas, como a diabetes, a hipertensão, a insuficiência cardíaca, que dominam as manifestações clínicas. Porém, mais tarde, podem surgir alterações próprias da doença renal como a anemia, a subida do potássio, alterações da vitamina D, a acidose metabólica, etc.
 
VH | Tendo em conta que os Cuidados de Saúde Primários são, na grande maioria das vezes, os que encaminham os doentes, a que sinais devem, também eles, estar atentos e de que forma podem ter um papel na prevenção da doença?
EA | Os médicos dos Cuidados de saúde Primários são os mais importantes na deteção precoce da doença renal. Tal como referi anteriormente, nas fases iniciais, a doença renal crónica é detetável nas análises, pelo que é importante que esses médicos saibam valorizar adequadamente estas alterações. Há duas análises fundamentais para o diagnóstico: a creatinina do sangue, que é um biomarcador da capacidade de filtração dos rins, e a albumina na urina, um marcador de lesão renal. Com estes dois biomarcadores, é possível estratificar a doença renal, aos quais se deve acrescentar a ecografia renal que nos dá uma imagem exterior do rim.
 
VH | Sabe-se que a “DRC é uma doença com uma enorme prevalência, estimando-se que afete, em Portugal, 1 em cada 10 pessoas”, sendo que “cerca de 20 % da população portuguesa apresenta algum grau de DRC”. Perante estes dados, o que pode ser feito, em Portugal, no que concerne ao rastreio e na prevenção da evolução?
EA | O mais importante é identificar a situação e iniciar, de imediato, medidas que podem reduzir a taxa de progressão. As medidas básicas estão ao alcance de todos - uma alimentação saudável, deixar de fumar, controlo do peso, exercício físico, boa hidratação, evitar medicamentos que fazem mal aos rins, como é o caso dos anti-inflamatórios não esteróides. O seu médico ajudá-lo-á nestes objetivos e em manter a pressão arterial controlada, a glicemia e o excesso de peso. Em certos grupos de pessoas, há medicamentos que devem fazer da terapêutica.
 
VH | Qual tem sido a evolução dos tratamentos para a DRC e qual o tipo de eficácia que apresentam?
EA | Durante muito tempo, a doença renal crónica foi um motivo de exclusão de pessoas que participavam em ensaios clínicos. Felizmente, essa estratégia foi alterada. Há cerca de 20 anos tornou-se óbvio que um grupo de medicamentos eram fundamentais no tratamento de pessoas com doença renal crónica. Mais recentemente, vários outros medicamentos demonstraram a sua eficácia, em particular nas pessoas com diabetes.
 
VH | Em que circunstâncias um doente com DRC não tem outra opção além da transplantação?
EA | As pessoas com doença renal crónica têm, habitualmente, um percurso longo, mas de elevado risco, sobretudo cardiovascular. No fim deste percurso, as alternativas são a diálise ou a transplantação renal. As duas modalidades de diálise - a hemodiálise e a diálise peritoneal - têm algum impacto sobre a vida das pessoas. Quando possível - e, infelizmente, nem sempre é possível por razões clínicas ou por carência de órgãos - é a opção que mais restaura os padrões de qualidade de vida. Desta forma, quando se aproxima da fase em que poderá ser necessário iniciar diálise, os nefrologistas (médicos que tratam das doenças médicas dos rins) procuram saber se a pessoa terá um dador compatível (familiar ou não) que possa doar um rim, ainda antes de ser necessário fazer diálise.
 
VH | Que trabalho tem sido feito pela Sociedade Portuguesa de Nefrologia no sentido de sensibilizar a população? E o que ainda pode ser feito?
EA | A Sociedade Portuguesa de Nefrologia tem como missão promover a formação e criar condições para a investigação científica em Nefrologia. Nesse sentido, identificou, desde há bastante tempo, a doença renal crónica como prioritária na nossa ação. Desta forma, promovemos ações de formação não só para nefrologistas ou internos de Nefrologia mas, também, para toda a comunidade médica, em particular para internos e médicos de MGF, Medicina Interna, endocrinologistas, diabetologistas, etc. 
A SPN também vai realizar uma ação de sensibilização para a importância da albuminúria para o diagnóstico da DRC sob a forma de um rastreio populacional que esperamos que, em breve, esteja no terreno. Por outro lado, no nosso Congresso - o Encontro Renal 2023, no Porto -  reservamos um espaço para apresentação de estudos realizados pelos médicos de MGF, sendo a expectativa bastante elevada para o sucesso destas duas iniciativas.
Mas a SPN também tem uma opinião sobre as linhas de orientação estratégica sobre a saúde delineadas pelo Estado. Nesse sentido, não deixámos de manifestar a nossa estranheza (e, até, indignação) pela não inclusão da doença renal crónica no Plano Nacional de Saúde 20-30 e tivemos oportunidade de o fazer quando o documento esteve em consulta pública.

 

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