Desenvolvida nos anos 50 pelo médico francês Jean Sterne, que lhe deu o seu primeiro nome comercial, Glucophage (como se comesse glucose), a metformina é, neste momento, o único fármaco da classe das biguanidas disponível.
Além de ser um fármaco seguro, com longos anos de experiência, é um fármaco de baixo custo, que reduz eficazmente os níveis de glicose, sem o risco de hipoglicemia e sem provocar aumento de peso, pelo contrário, promovendo até perda de peso. Os seus mecanismos de ação no fígado, músculo, tecido adiposo e até mesmo no endotélio tornam a metformina um fármaco de eleição no tratamento da diabetes tipo 2.
Em 2006, um consenso entre a American Diabetes Association e a European Association for the Study of Diabetes colocam a metformina como fármaco de primeira linha, a utilizar logo após o diagnóstico de diabetes mellitus tipo 2, a par com as mudanças de estilo de vida, indicação que se mantém até hoje. Trata-se de um fármaco geralmente bem tolerado, desde que se respeite a titulação inicial.
Os efeitos laterais gastrointestinais são, por um lado, minimizados, fornecendo ao doente um esquema de titulação de dose no início da terapêutica. Por outro lado, a tolerabilidade gastrointestinal pode melhorar com as formulações que utilizam o embonato de metformina em substituição daquelas que utilizam o cloridrato de metformina, conforme sugerido pelas Recomendações Nacionais da Sociedade Portuguesa de Diabetologia.
A Associação Americana de Diabetes recomenda que deve ser considerada a sua utilização em indivíduos com anomalia da glicemia em jejum, intolerância à glicose ou com A1c entre 5,7 e 6,4%, de forma a prevenir o aparecimento de diabetes. O potencial deste fármaco noutras situações como a síndrome do ovário policístico, a diabetes gestacional ou a diabetes tipo 1 tem sido cada vez mais explorado. Surpreendentemente, a metformina continua a demonstrar benefícios em cada vez mais doenças que se estendem além do "glicocentrismo", incluindo neoplasias e doenças neurológicas como a doença de Alzheimer.
Por tudo isto, a metformina mantém-se sempre jovem e sempre amiga.
Ana Isabel Oliveira, Serviço de Endocrinologia, Centro Hospitalar de São João, Porto
Texto publicado no Jornal das 5as Jornadas Nortenhas de Diabetologia Prática em Medicina Familiar, 28 e 29 de junho de 2013